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Folha de São Paulo, segunda-feira, 23 de abril de 2007 Computador em escola não melhora nota

Dois estudos mostram que acesso à informática não influencia positivamente o desempenho do aluno e pode prejudicar ensino

O uso da internet fora dos horários de aula distrai estudante e pode ser responsável por piora em português e matemática

ANTÔNIO GOIS DA SUCURSAL DO RIO

O uso de computadores nas escolas não melhorou o desempenho dos alunos em português e matemática, aponta um exame feito pelo MEC (Ministério da Educação).

Essa conclusão surpreende entusiastas do uso de novas tecnologias no ensino e consta em dois estudos realizados a partir do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), principal meio para avaliar a qualidade da educação.

Um deles foi feito pelo economista Naercio Menezes Filho, professor da Universidade de São Paulo e do Ibmec-SP. Comparando alunos de mesmo perfil socioeconômico e no mesmo ambiente, a média em matemática em escolas públicas ou privadas onde estudantes têm acesso a computadores não difere de forma significativa da de crianças em escolas sem computador ou internet.

O único efeito positivo de computadores no desempenho, segundo constatado por Menezes Filho, aparece quando o aluno tem acesso a eles e à internet em casa.

O outro estudo foi conduzido na Alemanha pela pesquisadora Maresa Sprietsma, do Centro de Pesquisas Econômicas Européias. Também com base no Saeb, ela concluiu que a presença de computadores em escolas brasileiras afeta negativamente o desempenho dos alunos em português e, principalmente, em matemática.

Tanto Menezes Filho como Sprietsma alertam que, pelo Saeb, não é possível saber que tipo de uso do computador está sendo feito. "Não sabemos, por exemplo, se os alunos estão utilizando os computadores fora do horário de classes de informática ou que tipo de atividade pedagógica acontece nos laboratórios", diz Sprietsma.

Falta orientação

Para Menezes Filho, o tipo de uso que o aluno faz do equipamento pode ajudar a explicar por que quando há computador em casa há efeitos positivos no aprendizado, enquanto o mesmo não acontece no caso de computadores na escola.

"Talvez esteja faltando em muitas escolas um professor que oriente o aluno a usar o computador, enquanto em casa essa tarefa está sendo feita pelos pais", afirma ele.

Já Sprietsma sugere duas hipóteses para explicar o efeito negativo da presença de computadores no desempenho.

A primeira é que os alunos que usam o laboratório fora do horário escolar, para acessar a internet ou entrar em salas de bate-papo, estariam deixando de fazer outras atividades importantes para o aprendizado, como os deveres de casa.

A segunda é que escolas que investiram em laboratórios de informática podem ter deixado de usar seu orçamento em outros recursos pedagógicos, que podem ser mais efetivos.

Computador é importante

Os dois pesquisadores alertam que seus estudos analisam apenas o efeito no desempenho em português e matemática. "Para a economia, é importante que a população seja alfabetizada digitalmente. Não se deve concluir que o investimento em computadores nas escolas é inútil", aponta a pesquisadora do Centro de Pesquisas Econômicas Européias.

O professor do Ibmec e da USP concorda: "É importante ter computador na escola para ser usado ao menos pelo diretor ou para que os alunos se acostumem a usar essa ferramenta, que será importante para seu desenvolvimento profissional. O que está errado é dizer que o computador, por si só, vai melhorar o desempenho".

Para ele, a advertência vale tanto para subsidiar gestores públicos na hora de implementarem suas políticas como para pais que matriculam seus filhos em escolas particulares.

"Vejo às vezes escolas privadas utilizando vários computadores em cada sala de aula, mas, se o professor não ensinar bem matemática e português, ou não souber usar o computador como ferramenta de ensino, de nada adiantará", completa.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2304200701.htm

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CENSO: SÓ 32% DAS ESCOLAS PÚBLICAS TÊM COMPUTADOR

Segundo o Censo Escolar do MEC de 2005, apenas 32% das escolas públicas de ensino fundamental possuem computadores e só 15% têm acesso a internet. No ensino médio, esses percentuais sobem, respectivamente, para 89% e 58%.

O investimento em computadores e o apoio a softwares educativos eficientes são algumas das propostas do Plano de Desenvolvimento da Educação, apresentado pelo MEC no mês passado.

No caso do Rio, a prefeitura quer equipar ao menos metade das escolas com computadores e internet até o fim do ano.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2304200702.htm


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