PropostaGlobalDeComunicacaoLivre
OBS: Isto é um texto permanentemente em construção, aberto a contribuições.
Da possibilidade de um sistema de comunicação global sem a presença de empresas nem controle estatal, livre.
PS: Este texto será unido com o texto: http://wiki.sarava.org/Estudos/RadioDigitalBrasil (Práticas de Rádio e Digitalização do Rádio no Brasil 2010) - favor ler também junto com este.
Uma introdução e motivação..
Este texto é uma crítica prática e teórica sobre o uso dos meios de comunicação, levantando a questão do controle e da privacidade. Entendemos que isso é pertinente na medida em que muito se fala atualmente do potencial revolucionário das novas mídias, notadamente a internet, mas pouco se refere à falta de privacidade e clareza no trato da informação que circula por essas mídias.
No princípio, a internet era livre. Apesar de ter sido concebida e desenvolvida na década de 1960 no contexto da Guerra Fria, sendo financiada pelos militares estadunidenses, através dos cientistas contratados para o trabalho outras prioridades e valores contribuiram para moldar a nova tecnologia que surgia. A internet inicialmente foi desenhada de forma a facilitar a troca e o compatilhamento de dados no âmbito da pesquisa acadêmica 1. Partindo desse campo, onde existe um certo tipo de economia da dádiva, a nova infra-estrutura comunicacional foi idealizada e desenhada de modo a permitir um ganho da capacidade intelectual e produtiva humana2.
No entanto, hoje outras forças e intenções atravessam a rede mundial de computadores. Tanto o Mercado quanto o Estado põem em ação dispositivos de captura que domesticam/apropriam o potencial da internet. Como qualquer espaço social na sociedade capitalista, a rede também é um local de conflito. Decorre disso que não surpreende a emergência de forças territorializantes, significando e legislando, colocando em evidência o mais recente campo em disputa na sociedade contemporânea.
Seria possível argumentar que, como no mundo concreto, contra-usos da estrutura podem escapar do controle. Por mais que grupos de empresas capitalistas se esforcem para impedir o livre compartilhamento da informação, estas ainda circulam em volume maior do que se pode controlar. Por mais que governos e Estados monitorem possíveis atividades subversivas, há sempre iniciativas que escapam ao seu olhar vigilante. De fato, devires minoritários efetuam linhas de fuga que escapam da rigidez dos dispositivos de controle, e os exemplos são abundantes de resultados significativos conseguidos dessa maneira. Movimentos sociais como o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) e o EZLN (Exército Zapatista de Libertação Nacional) utilizam a internet como forma de contrapor o próprio discurso à sua imagem construída pela grande mídia. Em relação ao processo eleitoral iraniano em 2009, a rede social Twitter funcionou como meio para preencher a lacuna deixada pela falta de cobertura da grande mídia sobre o assunto. Ainda, manifestações e protestos contra as fraudes nessas eleições do país foram organizadas pelo Twitter, funcionando como ferramenta de mobilização.
Mesmo assim, no contexto da internet, paira constantemente reais vulnerabilidades sobre toda possibilidade do seu livre uso. Isso porque a própria base material sobre a qual a internet se baseia hoje fornece grandes possibilidades de controle, colocando de saída as regras nas quais disputas neste espaço se darão, impedindo que seja considerada um meio de comunicação efetivamente livre. Se no seu nascimento a internet possuía um aspecto libertário (o sistema de trocas-dádivas acadêmico) que escapava da captura do aparelho militar do Estado (captura esta também dada desde o início, constitutiva do nascimento da rede), o seu crescimento atual aconteceu sobre uma plataforma física informacional controlada pelos Estados e, principalmente, por megacorporações de comunicação. Assim, todo o fluxo que circula na internet está sujeito a controle e censura.
A rede mundial de computadores existe em (pelo menos) duas formas enquanto espaço ocupável/navegável. No plano cotidiano do usuário médio, a internet configura como um espaço liso, "infinito por direito, aberto ou ilimitado em todas as direções", sem "direito, nem avesso, nem centro", sem "fixos e móveis", mas sim como "uma variação contínua"3 onde todos os pontos estão virtual e imediatamente ao alcance. Nesse sentido, qualquer pessoa no mundo pode publicar um conteúdo na forma de uma página, que estará igualmente acessível a todas as outras pessoas conectadas à esta rede em nível global. É nesse plano onde ocorre a atual subversão da circulação dos bens culturais imateriais4, disponibilizados e apropriados coletivamente formando algo que tem sido chamado de acervo-nuvem, ou commons, etc. É aqui também que redes (ou grupos, ou coletivos, etc) de indivíduos se formam, colocados em contato e formando inteligências coletivas transindividuais, a cybercultura bastante exaltada por vários estudiosos sobre o assunto5. Enfim, é este aspecto da internet que possibilita o crescimento inédito na circulação da informação, ultrapassando um ponto crítico de conexões (indicado pela primeira vez na teoria das redes Erdös-Rény6) que tem causado desdobramentos culturais ainda não totalmente compreendidos.
Mas este espaço liso é resultado de uma desterritorialização produzida pela efetivação de uma homogeneidade, dada no plano técnico da arquitetura da rede. Tal arranjo técnico estabelece um espaço estriado onde acontece a circulação de dados. Nesse espaço, existem constantes e variáveis, que quebram as informações com o fim de fazê-las circular, e depois as reconstituem para que possam ser lidas. Um modelo padrão para descrever esse processo é o Open System Interconnection, composto por sete camadas de processamento e transporte.
Tecnicamente, intervenções de modulação no tráfego de dados podem se dar principalmente nas camadas da rede (3ª e 4ª) e das aplicações (7ª). Na terceira camada, responsável principalmente pelo endereçamento lógico e roteamento, existem as informações genéricas da origem e destino dos pacotes de dados. Com tais informações, é possível bloquear todo tráfego com origem ou destino a determinado endereço (expresso pelo IP, ou internet protocol). Na quarta camada, além das informações de origem e destino, existem também as informações sobre o tipo de serviço que originou ou irá receber os pacotes, permitindo uma filtragem mais precisa. Note-se que, nas camadas da rede, só é possível mediar o tráfego com base nas suas informações de origem e destino. Já no nível das aplicações é possível acessar o próprio conteúdo dos dados, permitindo o acesso a uma maior quantidade de informação. São três principais técnicas deste tipo. A primeira, é a dos proxy servers. Os "proxies" atuam como intermediários dos processos travados entre os computadores em comunicação, literamente interceptando e repassando os pedidos entre eles. Na medida em que ele próprio executa o protocolo de transmissão de dados, o proxy server pode acessar detalhes dos pacotes, podendo definir atitudes a partir dessas informações. Outra técnica é a "deep packet inspection", ou inspeção profunda dos pacotes. Diferente da anterior, aqui o protocolo não é executado. As informações dos pacotes são escaneadas no tempo real da transmissão, com base em palavras-chave e análises heurísticas. Com os parâmetros e equipamentos adequados, esta técnica permite uma busca detalhada no conteúdo dos dados em trânsito. Finalmente, há a técnica de manipulação do DNS (Domain Name System), que é um nome associado a um endereço IP para facilitar o acesso a computadores remotos. Baseados nesses nomes, os sistemas de administração de redes podem bloquear o acesso aos servidores associados a eles. Embora seja facilmente contornável, esta maneira de bloqueio é uma das mais utilizadas, pela simplicidade de aplicação e pela efetividade sobre a grande maioria dos usuários da internet.
Conforme este modelo, cria-se circulações hierárquicas em dois sentidos. No processo de quebra, empacotamento e endereçamento dos dados, as ordens são emitidas das camadas superiores para as inferiores, estabelecendo uma hierarquia vertical, fixa. No trajeto até o destino, os dados empacotados transitam pelo ar, por linhas telefônicas, cabos de fibra ótica, até o computador de destino, onde passará por um processo de decodificação e recomposição para que possa ser lido, percorrendo no sentido inverso (mas de maneira idêntica, pois é fixa) aquela estrutura vertical. No entanto, este trajeto percorrido entre um ponto e outro também possui uma hierarquia própria, na medida em que a informação deve circular por nós de acessibilidade privilegiada, que a redistribui para outros nós do mesmo tipo, até o destino final. Esses grandes nós para que converge grande parte da circulação de dados na internet são servidores estratégicos, controlados por aparelhos de Estado (e de mercado). Aqui se estabelece uma outra hierarquia, que pode ser chamada de horizontal e móvel: horizontal em comparação com a verticalidade das camadas da rede, na medida em que põe em contato essas redes locais; móvel pois mutante, adaptável às mudanças dos fluxos, em comparação com a rigidez da disposição das camadas das rede locais.
Esta hieraquia é estabelecida pela capacidade de modulação nesses nós, possibilitada pela concentração do fluxo. Tal concentração explica-se pela atuação de dois fatores sobre a formação dessa rede de computadores: crescimento e conexão preferencial7 . Tal modelo introduz essas variáveis no estudo de redes de modo que explica o surgimento de grandes nós em redes variáveis na natureza. Um exemplo dessas redes, de que nos utilizamos aqui, é a internet. Ela constitui um sistema em que os vértices são as páginas e as ligações entre elas são as conexões. Considerada como um sistema aberto, em que novos vértices constantemente se agregam aos já existentes, existe uma probabilidade desigual na ponte de ligação em que essa entrada de novas páginas na rede acontece. Vértices com mais conexões tem chances maiores que atrair novas ligações, e vértices com menos ligações tendem a se conectar mais lentamente. Na forma como existe hoje, essa modelo é válido em dois planos: no plano técnico da circulação de pacotes de dados, temos os grandes servidores que concentram os serviços de hospedagem, atribuição de DNS, provedores de acesso, etc. No plano da interação com os usuários humanos, temos os grandes portais de conteúdo, sistemas de busca, redes de relacionamento, que atraem novos usuários para seus serviços, ofuscando a grande maioria dos produtores de conteúdo que são pouco acessados.
Essa dualidade ontológica da internet remete à possibilidade de ligação entre espaços estriados e lisos. Isso porque os processos de circulação de dados em rede baseia-se em protocolos, que devem ser executados pelos dois pontos em contato, de modo a criar um padrão para que os dados possam ser lidos por ambos os lados. Dessa maneira, a articulação daqueles dois sentidos hierárquicos de circulação estabelece um espaço homogêneo, mensurável, divisível, estriado, para o transporte de dados. E "somente porque o estriado não chega a seu ideal de homogeneidade perfeita sem que esteja prestes a produzir novamente o liso, seguindo um movimento que se superpõe àquele do homogêneo, mas permanece inteiramente diferente dele"8, é que planos tão diversos podem coexistir em um mesmo fenômeno.
Desse modo tem-se um espaço liso de circulação de bens imaterias culturais, de estabelecimento de conversas, de surgimento de inteligências coletivas. Ao mesmo tempo, observa-se uma aceleração no ritmo de circulação do capital, onde a exploração do sobretrabalho ultrapassa o confinamento e a vigilância do trabalhador da fábrica e nos escritórios. A expansão das redes de influência das grandes corporações, ultrapassando os limites nacionais, repõem no cerne do capitalismo um espaço liso de circulação do capital, fluido, imediato, imediado, global. Nesse novo plano de circulação, a exploração de mais-valia também se transforma: "o sobretrabalho, e a organização capitalista no seu conjunto, passam cada vez menos pela estriagem de espaço-tempo correspondente ao conceito físico-social do trabalho. É antes como se a alienação humana fosse substituída, no próprio sobretrabalho, por uma servidão maquínica generalizada, de modo que se fornece mais-valia independentemente de qualquer trabalho"9. E o espaço liso da internet reúne então as condições ótimas de temperatura e pressão para esse novo tipo de exploração. Sob esta ótica, não surpreende o investimento em infra-estrutura física feito pelas corporações na consolidação de um alcance global da internet. É nesse contexto que surgem discursos que procuram sobrecodificar fatos sociais-máquinas de guerra-devires nômades que se expressam (também, mas não só) pela internet. Dessa maneira a livre circulação de bens culturais imateriais se torna pirataria, para depois ser convertida em novo modelo de negócio. Da mesma maneira, rádios livres se tornam rádios comunitárias, domadas sob a vigilância da lei.
Tendo isso em vista, o desfecho das mobilizações pela internet no Irã é emblemático: alguns dias antes, durante e após as eleições, a velocidade do fluxo da internet no país caiu em 90%. Tal fato se deveu à implementação de tecnologias de vigilância e censura, compradas pelo estado iraniano das empresas européias Nokia e Siemens, baseada na técnica de "deep packet inspection". Houve uma centralização de todo o fluxo de dados do país para uma única central de monitoramento, permitindo a busca por palavras-chave sobre todo tipo de dados pessoais (voz e texto), além de possibilitar a adulteração e encaminhamento das mensagens interceptadas. Apesar de tal nível de controle apenas ter sido possível pelo relativo baixo número de usuários da internet no Irã, o uso efetivo da referida técnica em tal escala foi inédito, coisa que despertou o interesse de outros governos.
Um caso bem diferente quanto à escala, mas igualmente eficiente e bem mais documentado que o do Irã, é a China. Conhecido como "China's Great Firewall" (referência á Grande Muralha da China), o sistema de censura e monitoramento do fluxo da internet na China é descentralizado. O sistema é espalhado por provedores de acesso, servidores de hospedagem e até serviços de busca como Yahoo, MSN e Google que, sob a alegação de apenas seguirem acordos comerciais, adotam as regras de censura ditadas pelo governo chinês. O mais famoso caso é o da colaboração do Yahoo na condenação de Jiang Lijun por "práticas subversivas". A empresa teria fornecido informações confidenciais ao governo chinês, o que fundamentou a condenação de Jiang.
Práticas de controle e censura também são comuns fora do contexto de governos totalitários. Na supostamente livre esfera do mercado, essa práticas assumem a feição de "direitos do autor", "propriedade comercial", etc. De maneira similar à censura no sites de busca, onde as empresas retiram dos índices conteúdos restritos pelo governo chinês, nos EUA o executivo-chefe da News Corp, Rupert Murdoch, anunciou que iria retirar o conteúdo das suas empresas do Google. O empresário tem dado entrevistas dizendo que os agregadores de notícias se apropriam indevidamente de conteúdo que deveria ser pago. O executivo também tem dado indicações também de um possível contrato com a Microsoft, segundo o qual o conteúdo dos jornais do grupo News Corp seria retirado dos índices de busca do Google, de modo que apenas o buscador da Microsoft, o Bing, teria acesso a esse material.
Esse tipo de prática, totalmente legal e facilmente executável dentro do universo da internet, segue a lógica da mercantilização da informação, ressaltando as diferenças existentes entre tipos diversos de práticas entre as empresas que exploram a internet como um negócio: por um lado, a Google, apostando no compartilhamento e difusão da informação como um novo modelo de negócio, se valendo da colaboração e participação dos usuários em uma nova forma exploração de valor; por outro lado, a News Corp. apostando em um modelo tradicional de gestão, que trata a informação como um produto a ser vendido. Em geral a avaliação do eposódio foi que um contrato deste tipo não teria grande repercussão nem vida muito longa, na medida em que seria incompatível com o funcionamento da internet. Em primeiro lugar, por que pouquíssimos usuários sentiriam falta do conteúdo da News Corp., já que conteúdo similar pode ser encontrado em diversos outros portais de notícias acessíveis ao Google; pelo mesmo motivo, este sistema de buscas seria pouco afetado. Segundo, pois mesmo que hipoteticamente iniciativas similares ganhassem força e volume a ponto de tornar o Google irrelevante como ferramenta de busca de conteúdo, outros websites surgiriam para ocupar o espaço surgido, da mesma maneira como tem acontecido sucessivamente desde que o Napster foi desativado por processos das gravadoras de música, com a constância emergência do novos sistemas que substituem os antigos.
Por mais que tal raciocínio tenha fundamento, neste caso os usuários da internet são colocados em um dilema. São obrigados a escolher entre simplesmente reproduzir as formas culturais da sociedade de consumo tradicional, ou servir como fonte de alimentação dos novos modelos de criação e exploração de valor desenvolvido pelas corporações, no mais avançado estágio do capitalismo informacional. Colocada nessa situação de duplo vínculo ("double bind"), não há escapatória real para a internet da apropriação capitalista. É nesse sentido que propõe-se aqui um esquema técnico de uma rede de comunicação livre, sem o uso de infraestrutura proprietária de empresas capitalistas ou do Estado.
Uma proposta de comunicação livre..
Consiste em 1) transmissão em broadcast (rádios e tvs livres), 2) terminais de telefonia de acesso ponto a ponto (rede de celular GSM livre) e 3) rede ip (internet livre); é uma infraestrutura heterogênea que de forma dinâmica se configura numa rede global de comunicação livre.
No caso do sistema de transmissão em broadcast, composto pelas rádios e tvs livres, os exemplos são muitos e a prática já é dominada 10.
No caso do sistema de telefonia GSM, é necessária a instalação de BTSs GSM11, que serão construídas utilizando plataformas SDR12 - como a dupla USRP13 + GNURadio14 - rodando o OpenBTS15. A conexão entre essas BTSs será explorada mais adiante.
No caso do sistema que viabilizará a rede ip, serão utilizados equipamentos WiFi (802.11) e WiMax (802.16) principalmente, para se fazer o acesso à rede de forma capilar, sendo que a conexão desses pontos de acesso será discutida mais adiante. Os servidores dessa rede ip existirão de forma descentralizada, conectados a qualquer ponto de acesso à rede.
A seguir está descrito uma arquitetura de interconexão possível para o sistema de comunicação proposto acima (que servirá para interligar tanto para a rede GSM quanto para a rede ip), sendo que a divisão do espectro pelas faixas de frequência tradicionais é bem "grosso modo", assim como as formas de modulação são sugeridas sem grande aprofundamento do por que das escolhas:
Para as redes de comunicação para longas distâncias:
Em frequências de ondas curtas (3MHz a 30MHz), usando modulações analógicas (SSB, por exemplo) e digitais espectralmente eficientes (GMSK ou as já bastante usadas PSK31, PSK63, PSK125, PSK250, e assim por diante) para transmitir os dados entre territórios distantes, como diferentes continentes, respeitando-se as condições de propagaçao ionosférica (que em alguns momentos pode ser muito adversa) entre os locais que queiram estabelecer comunicação. Eventualmente, para as redes de longas distância, poderemos usar satélites de rádio-amadores ou satélites livres, dependendo da disponibilidade dos mesmos.
Para as redes de comunicação para médias distâncias (até 650km):
Em frequências de ondas curtas, médias (300kHz a 3MHz) e longas (30kHZ a 300kHz), usando modulações analógicas e digitais espectralmente eficientes para transmitir os dados entre cidades e países da mesma região. Uma técnica boa para coberturas de médias distâncias é a transmissão NVIS - Near Vertical Incidence Skywave. Com relação ao uso de satélites, a mesma consideração para redes de longa distância se aplica.
Para as redes de comunicação para curtas distancias (até 200km):
Em VHF (30MHz a 300MHz), UHF (300MHz a 3GHz) e SHF (3GHz a 30GHz), usando principalmente modos de modulação digital que permitem altas taxas de transmissão - principalmente os sistemas WiMax (802.16) e WiFi (802.11) - para transmitir dados dentro de uma mesma cidade ou região.
Uma consideração sobre WiFi (802.11): O sistema WiFi não é um bom sistema, não é espectralmente eficiente nem deve ter seu uso encorajado, no entanto, equipamentos para esse sistema estão disponíveis de forma abundante e barata no mercado, então não deve ser desconsiderado por esses motivos puramente práticos.
Algumas considerações sobre a rede:
Através dessa infraestrutura para as interconexões, os pontos de emissão locais em broadcast (rádios e tvs livres) podem ter comunicação global, além da local; os terminais de acesso (celular) serão interconectados usando um roteamento que pode ou não estabelecer a comunicação (no caso de ligações intercontinentais, há momentos que nos quais não se consegue fazer o link usando ondas curtas - a ligação pode falhar); e a rede ip, que será uma internet livre, terá como terminais de acesso os dispositivos equipados com WiFi ou WiMax principalmente, mas nada impede que redes locais usem cabeamento ou outro tipo de conexão.
Comunicação global em várias faixas de frequência é dominado há décadas pelos milhões de radio amadores ao redor do mundo (aliás, os rádio-amadores já fazem o que se faz na internet hoje - rede de comunicação ponto-a-ponto - a mais de 80 anos). Poderia utilizar-se TCP/IP encapsulado no sistema de rádio digital DRM (Digital Radio Mondiale, mais em http://wiki.sarava.org/Estudos/RadioDigitalBrasil#toc8) como o protocolo de comunicação entre os nós.
E essa infraestrutura aliada a uma forma de gestão da rede horizontal, descentralizada e assimétrica, torna desnecessária a alocação de tanta banda do espectro eletromagnético para empresas principalmente, sobre a tutela do Estado.
Caso queiramos alinhavar essa proposta com a não ilegalidade dela, no contexto da lei brasileira, mas não, de forma alguma, sugerindo que ela não possa ser implementada fora da lei, seguem abaixo as sugestões para a lei brasileira se adequar à comunicação livre:
- 12MHz no espectro de VHF (não incluindo a faixa do FM tradicional) para
uso livre, podendo ser utilizado como via de broadcast ou de mão dupla.
- 1200kHz no espectro de OC (HF) para uso livre, podendo ser utilizado como
via de broadcast ou de mão dupla.
- 120kHz no espectro de OM (MF) e 40 kHz no espectro de OL (LF), para ser
utilizado para broadcast, mão dupla e pesquisas acadêmicas na área de
telecomunicação.
- 4 ARFCNs livres (4*2*200 kHz) na faixa de frequencia de celular de 850MHz ou 900MHz
para pesquisa e implementação de BTSs GSM livres.
- 10 canais na faixa de broadcast de FM, 10 de AM e 10 de OC para rádios livres.
- 10 canais na faixa de TV (VHF ou UHF), para tvs livres.
- os canais do VHF baixo hoje usados para TV analógica, quando
desocupados, serem alocados como espectro de uso livre também.
- Todos os perfis de receptor digital de rádio devem conter as faixas de
OM, OC e VHF (onde está o FM tradicional hoje), incluindo necessariamente as faixas das
rádios livres.
Notas
[1] BARBROOK, Richard. Futuros Imaginários: das máquinas pensantes à aldeia global. pp 225-230. São Paulo: Peirópolis, 2009.
[2] LICKLIDER, Joseph C.F. Man-Computer Symbiosis. IRE Transactions on Human Factors in Electronics. volume HFE-1, pp 4-11. March 1960.
[3] DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Felix. Mil Platôs. Capitalismo e Esquizofrenia. vol.5, p.181. São Paulo: Ed. 34, 1997.
[4] ALMEIDA, Mauro W.B. Redes Generalizadas, Mentes Coletivas e Subversão da Ordem. Aula pública proferida no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas. Junho 2009. Disponível em http://cteme.sarava.org/Main/MWBA.
[5] LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999.
[6] ERDÖS, Paul; RÉNYI, Alfred. On random graphs. Publicationes Mathematicae, 6, pp. 290-297, 1959.
[7] BARABÁSI, Albert‐László; ALBERT, Réka. Emergence of Scaling in Random Networks. Science, vol. 286, 15, pp. 509‐512, 1999.
[8] DELEUZE; GUATTARI. idem p.197-198.
[9] ibidem p.202
[10] Radio Muda - 105.7MHz FM, TV Piolho - 20 UHF: http://muda.radiolivre.org e http://piolho.tvlivre.org
[11] Um exemplo de uma rede GSM usando a USRP e componentes eletrônicos de RF, demonstrada no encontro hacker Burning Man 2009: http://gnuradio.org/trac/wiki/OpenBTS/BM2009RF
[12] Radio Definido por Software: http://en.wikipedia.org/wiki/Software-defined_radio
[13] Universal Software Radio Peripheral: http://www.ettus.com/downloads/er_ds_usrp_v5b.pdf
[14] Um Framework livre para SDR compatível com a USRP: http://gnuradio.org/trac
[15] Software livre que implementa o padrão GSM: http://gnuradio.org/trac/wiki/OpenBTS
Outras Referências
Site sobre propagação ionosférica:
http://sites.google.com/site/reflexaoionosferica/
Sites sobre o projeto da rede GSM livre:
- Sobre o padrão GSM:
http://user.cs.tu-berlin.de/~jutta/gsm/js-intro.html
http://www.shoshin.uwaterloo.ca/~jscouria/GSM/gsmreport.html
- Sobre as redes de celular no Brasil:
http://www.teleco.com.br/Bandac.asp
- Sobre a modificação na RFX900 a ser feita:
http://students.ee.sun.ac.za/~gshmaritz/?p=94
- Clock generator para a rede GSM funcionar melhor:
http://code.google.com/p/clock-tamer/
- Patch para o OpenBTS usar somente uma RFX900:
http://www.246tnt.com/files/single_rfx900.diff
- Dica para eliminar o cross-talk na RFX900:
<tnt> Also, if you remove the C202 capacitor on the RFX, you don't have internal xtalk problem.
<tnt> I will probably be posting tonight my own experimentations/results with this : http://twitpic.com/25auq3 <rafael2k> have you designed that board? <tnt> yes <rafael2k> what exactly it does? <rafael2k> btw, seems very professional <tnt> There is a duplexer to allow using a single good antenna, a LNA to amplify the RX signal (mostly to compensate the insertion loss of the duplexer & filter) and a SAW filter to further prevent TX energy (or any other) to get into the RX path. <rafael2k> very nice! <rafael2k> do you plan selling it assembled? <tnt> Yes, see details in my post tonight (still have a few test to run). But there will be a single production run, I don't want to become a HW reseller. It's just hard to build in small qty (because company selling filters/duplexer only sell to company and in large qty) so I want to offer interested people a chance to still get some for not too much. <rafael2k> what max power can you insert in the TX port? <rafael2k> I want 2! <rafael2k> ; ) <tnt> max 3W (36dBm) into the TX port.
- Clock para substituir o clock interno da USRP, não apropriado para operação GSM:
http://www.fairwaves.ru/
link direto: http://code.google.com/p/clock-tamer
- Implementação de protocolo de rádio-pacote (packet radio) e RDS (Radio Data System) usando o gnuradio/usrp:
http://digilander.libero.it/iz2eeq/
- Rede digital em Ondas Curtas:
http://pskmail.wikispaces.com/
Livro sobre propagação de ondas:
- DOLUKHANOV, M. Propagation of Radio Waves. Moscou: Mir Publishers, 1971.
Autores:
- Rafael Diniz
- Samuel Leal
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