QuestaoPoliticaDoSpam

A dimensão política do SPAM

O SPAM é uma invenção tardio do capitalismo informacional. O capitalismo insiste em destruir tudo o que é público em detrimento privado.

Aquele que envia SPAM tem uma chance ínfima de retorno pelas suas propagandas, mas ele consegue enviar tantas mensagens que acaba tendo retorno. Tem uma chance em cem mil de vender uma bugiganga mas insiste em encher a internet de lixo. E tem retorno, mesmo ínfimo em relação ao dispêndio de energia.

E o gasto energético, no caso do SPAM, não é privado. Existe um custo social forte do spam, que inclusive pode ser calculdado. Porque o SPAM, quando sobe o processamento de uma máquina, faz com que a mesma consuma mais energia, gastando mais dinheiro de quem paga as contas dela. Então alguém pode pegar estimativas de envio de SPAM, fazer contas toscas a respeito do gasto em processamento e consequentemente em energia total. Isso não seria um cálculo preciso, mas daria idéia da ordem de grandeza.

Inclusive e eventualmente poderia ser estimado o quanto desse custo vem das empresas, o quanto dos governos e o quanto das pessoas físicas, mas aí também já seria uma grande especulação.

O importante aqui é que o SPAM é visto como outra uma forma de apropriação energética e de gasto computacional: ele se apropria da infra-estrutura alheia para permitir o envio da sua propaganda. E não apenas o SPAM, mas qualquer software não-solicitado rodando no computador das pessoas é uma apropriação indevida.

Não é só um ambiente mal configurado que permite SPAM, é importante levar em conta que os sistemas operacionais e softwares inseguros são os que mais contribuem para a prática do SPAM. Softwares proprietários são os que mais contribuem na construção de ambientes propícios para o SPAM. Ou seja, além da questão da apropriação, temos a responsabilidade social de uma empresa ao fazer um software que será usado em larga escala.

Nos moldes da indústria da ameaça, sistemas de anti-virus e anti-spam até compõem uma indústria própria. Pensar dessa forma é politizar a luta contra o SPAM, ao invés de simplesmente torná-la uma luta funcional.

Politizando realmente

Mas tudo isso ainda é apenas metade da politização da questão do SPAM. E o marketing, a propaganda moderna? Não seria também uma forma de discurso invasiva, que não pede licença para inserir conteúdo em nossas mentes? A propaganda dita "limpa", isto é, não considerada como SPAM, é até mais nociva, porque é vista como normalidade. O SPAM não passa de uma caricatura dadaísta que se utiliza de brechas para fazer sua propaganda.

Energeticamente, a propaganda sempre polui e sempre gasta energia. O SPAM, usando excedente computacional disponível e não-autorizado. Já a propaganda moderna necessita de um poder computacional absurdo para enviar anúncios personalizados e analisar a aceitação de suas campanhas.

Quem paga pela propaganda?

Se a propaganda é uma forma barata de inserção não-solicitada de conteúdo nas mentes, as pessoas não deveriam ser pagas para receberem tal conteúdo ou terem uma opção de escolher se não a desejam (opt-out)? Ou melhor, aquelas com vontade de receber é que deveriam subscrever por ela (opt-in). Ao contrário, são as pessoas que financiam a propaganda através do consumo. Financiam o próprio lixo que recebem involuntariamente.

Deixemos de lado a propaganda mais tradicional e foquemos na propaganda online. Quem paga por ela? A questão é ainda pior, já que os serviços onlines ditos "gratuitos" na realidade vendem os perfis de uso a anunciantes. Além de consumir, agora a pessoa ainda fornece gratuitamente seu padrão de consumo e recebe propaganda de volta.

Comparado a esse esquema turbocapitalista, o SPAM parece tímido.

Combater o SPAM sem combater a propaganda legalizada não seria então apenas um remendo na economia da energia e da atenção? Não seria então moralizar o precário e ilegalizado e dar de ombros com a propaganda regulamentada?

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