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“O crash atual representa o acidente integral por natureza”

Fichamento de “O crash atual representa o acidente integral por natureza”.

Seleção de trechos

  O crash atual representa o acidente integral por excelência. Seus efeitos se
  difundem ao longe, e ele integra a representação dos outros acidentes.

  Faz trinta anos que se produz o impasse sobre o fenômeno de aceleração da
  História e que essa aceleração é a fonte de multiplicação dos grandes
  acidentes. 'A acumulação põe fim à impressão de acaso', dizia Freud a propósito
  da morte. Sua palavra-chave aqui é acaso. Esses acidentes não são casuais. Nos
  satisfazemos neste momento em estudar o crash das bolsas sob o ângulo econômico
  ou político, com suas conseqüências sociais. Mas não se pode compreender o que
  se passa se não se põe sob investigação uma economia política da velocidade,
  gerada pelo progresso das técnicas, e se não a relaciona ao caráter acidental
  da História.

  Vamos dar só um exemplo: dizemos que tempo é dinheiro. Eu acrescento que a
  velocidade - a Bolsa o prova -, é o poder. Nós passamos de uma aceleração da
  História a uma aceleração do real. É isso o progresso. O progresso é um
  sacrifício consentido.

  [...]

  Nós vivemos com a convicção de que temos um passado e um futuro. Ora, o passado
  não passa; ele se tornou monstruoso, ao ponto em que não o tomamos mais como
  referência. Quanto ao futuro, ele é limitado pela questão ecológica, o fim
  programado dos recursos naturais, com o petróleo. Resta, portanto, o presente a
  habitar. Mas o escritor Octavio Paz dizia: ¿O instante é inabitável, como o
  futuro¿. Nós estamos vivendo isso, inclusive os banqueiros.

  É aqui e agora que isso está em jogo. Um novo aspecto se criou. Não é a
  finitude que é triste, é a realidade. É preciso aceitá-la. O crash nos ensina
  que é preciso vivê-lo na sua grandeza própria, num mundo acabado. Nós temos uma
  obrigação de inteligência de fazer isso.

  [...]

  A velocidade fazia com que se ganhasse dinheiro, a finança quis impor o
  valor-tempo ao valor-espaço. Mas o virtual também faz parte da realidade. E
  além do mais, o soi-disant mundo virtual, no qual se pode englobar paraísos
  fiscais, é o do exotismo, que eu assimilo ao do colonialismo; é o mito de um
  outro planeta habitável.

  [...]

  Eu não nego os estragos da acumulação de riquezas. Mas criticar essa aceleração
  dos lucros e da História, essa 'avareza galopante', como dizia Eugène Sue,
  permanecer no quadro materialista do lucro é uma análise redutora,
  insuficiente.

  O que está em jogo é mais sofisticado e grave. Nós passamos por algo de uma
  outra natureza. Essa economia da riqueza se tornou uma economia da velocidade.

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