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As novas ferramentas e o falso bem-estar
Trechos de As novas ferramentas e o falso bem-estar:
"A ingenuidade costuma ser o mais eficiente procedimento contra a autonomia crítica. Ora, todos sabemos que tecnologia lida com altos investimentos cuja aplicação se justifica na razão direta da garantida alta rentabilidade, o que transforma, a priori, o capital injetado em pesquisas, em certeza de multiplicação de lucros adiante. A modernidade está estruturada nessa dinâmica do "lucro" - nem precisamos mencionar Chomsky, Baudrillard ou Virilio. A lógica de investimentos da tecnologia pressupõe a capacidade de extrair, cada vez mais, poupança de segmentos populacionais que suprem a ausência de outros absolutamente desprovidos de mínimas condições para a auto-suficiência. É uma forma de lógica perversa que parece aceita pelas duas pontas: investidor e consumidor. Quanto a isso, pois, não há nada de novo. O que efetivamente merece ser objeto de vigilância é a circulação, no espaço público, de discursos que, travestidos de retórica teórica, não passam de peças publicitárias cuja função não é outra senão a de divulgação de novos artefatos tecnológicos e a disseminação de conceitos que, a rigor, se situam no horizonte de expectativas dos setores dominantes. Assim se enquadram as publicações tanto de Pierre Lévy quanto de Domenico Di Masi. [...] Somente a falta de percepção crítica pode embalar a imaginação, impregnando-a de ingenuidade. As últimas décadas, pelo menos, mostram claros sinais de dificuldades crescentes. Ao contrário, as ferramentas tecnológicas roubam, cada vez mais, o tempo ocioso. Exatamente por elas acelerarem a resolução de tarefas, mais tarefas cabem no mesmo espaço de tempo. [..] Há, pois, no campo da parceria ciência / tecnologia, uma tensão entre essas duas vertentes: a) vertente libertária ; b) vertente aprisionante. Estas haverão de permanecer em constante conflito. Ao mesmo tempo em que passos fantásticos são dados no ramo da nanotecnologia, outros, absolutamente convidativos à dispersão, na esfera da tecnologia da informação, são postos à disposição de usuários que, tomados pelo "fetiche", a tudo se entregam, sem perceberem que seu tempo sobrante é vorazmente suprimido pela oferta incessante. A geração mais jovem, sem dúvida, se torna mais suscetível a tais tentações. Celulares, Orkut, You Tube, Blogs, games dos mais variados e e-mails em profusão consomem praticamente todo o tempo disponível, tão necessário à imaginação. Criar, portanto, defesas contra as "redes de invasão" é um imperativo do qual não se deve descuidar qualquer concepção de política educacional. Em relação a esse fato, estamos na estaca zero."
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