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O que estão ensinando às nossas crianças?

Trechos do texto O que estão ensinando às nossas crianças?

  Ela folheou o livro Terra e Propriedade, da coleção História Temática, que ele usa na escola, e 
  encontrou uma foto de José Rainha, líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).?
  Ele aparecia apenas como líder social?, diz Mayra. ?Não havia a informação de que foi condenado pela 
  Justiça.? Em uma leitura mais atenta, ela se incomodou ainda mais com o que identificou como
  maniqueísmo nos textos. ?Os poderosos são sempre os vilões, e os proletários os coitados. Não
  acho saudável crescer dividindo o mundo entre vítimas e culpados?, afirma Mayra, que é vereadora
  do partido Democratas (ex-PFL).

  [...]

  Em um país democrático, pode-se esperar que os títulos reflitam o amplo espectro ideológico e
  político da sociedade. Não é o que ocorre. A maioria dos livros -- em especial os de História --
  é simpática ao socialismo e apresenta o livre mercado como um modelo econômico gerador de
  desigualdade e pobreza. Embora a ênfase seja desequilibrada para a ideologia de esquerda, isso
  faz parte do jogo democrático. O dado que assusta é a quantidade de distorções que os autores
  fazem em nome da visão socialista. Existem dois tipos de problemas. O primeiro é a omissão.
  Ao tratar de revoluções socialistas, como a da China e a de Cuba, vários livros deixam de
  mencionar o caráter opressivo e ditatorial desses regimes. Além disso, a ideologia leva alguns
  autores a publicar informações erradas, como dizer que a globalização aumentou a pobreza mundial.

  [...]

  Para Kamel, o livro é uma “tentativa de fazer nossas crianças acreditarem que o capitalismo
  é mau e que a solução de todos os problemas é o socialismo”. ÉPOCA analisou o livro e encontrou
  trechos problemáticos, como “Adam Smith acreditava que as forças do mercado agiriam como uma mão
  invisível a regular a economia. Em suma, o vale-tudo capitalista promoveria o progresso geral
  de forma harmoniosa”, uma visão estereotipada do capitalismo, como um sistema desprovido de ética. 

  [...]

  ÉPOCA fez um levantamento de 20 livros didáticos e 28 apostilas de História e Geografia adotados 
  por escolas públicas e privadas. Em um país democrático, pode-se esperar que os títulos reflitam 
  o amplo espectro ideológico e político da sociedade. Não é o que ocorre. A maioria dos livros – 
  em especial os de História – é simpática ao socialismo e apresenta o livre mercado como um modelo 
  econômico gerador de desigualdade e pobreza. 

  [...]

  “Faço esporte ou sou usado pelo esporte?”, em que a atividade física é apresentada como ferramenta 
   de exploração capitalista. “Regras: é preciso respeitá-las para sermos bons esportistas. Em nossa
   sociedade, devemos ser submissos às regras impostas pela classe dominante”, escreve o autor. 
   “Em nosso convívio social, devemos respeitar nossos colegas (...), contribuindo com o êxito da 
   equipe ‘de trabalho’, isso quer dizer ‘enriquecer cada vez mais os patrões’.”

  [...]

  A doutrina política de esquerda não é o único problema do mercado didático. O livro Banzo, 
  Tronco &  Senzala, da editora Harbra, foi recolhido da rede de Brasília em 2003 porque sua 
  ilustração de capa trazia escravos negros com traços faciais semelhantes aos de macacos. 
  No início de 2003, o caso foi denunciado por um pai de aluno ao senador Paulo Paim (PT-RS) – 
  que procurou o governo do Distrito Federal.

  [...]

  Por que o ensino de História ganhou esse tom anticapitalista no Brasil? Segundo alguns 
  economistas e educadores, isso é resultado de uma mudança no perfil dos professores ocorrida 
  na década de 70. Naquele momento, a expansão da educação básica aconteceu à custa da redução 
  do salário dos professores. O poder de compra deles hoje é até 70% menor do que foi na década 
  de 50, de acordo com o sindicato dos professores do Estado de São Paulo (Apeoesp).

Comentários

Esse povo de direita é engraçado por afirmar que ideologia só existe na esquerda. Assim, ensinar Marx para crianças e doutrinar. Agora, falar que o Getulio foi legal não. Bom se for pra colocar as claras a historia do pais, teremos que começar no Brasil Colônia, vamo lá, do assassino número um em diante. Esse pessoal provavelmente acha que

  1. A concentração de riqueza existe porque os pobres dao por livre e espontânea vontade seus bens para os ricos ; e/ou
  2. Que os pobres assim o são por pura incompetência, pois se não fossem estariam ricos (é o raciocínio mais popular entre os neoliberais); e/ou
  3. Que o sistema é bom, só tem dado errado até o momento porque não foi bem aplicado; com alguns ajustes estruturais como a privatização, a desregulamentação e a flexibilização dos direitos civis e trabalhistas o sistema deverá funcionar (que é o argumento mais picareta). [Nota 1]

Portanto, qualquer iniciativa no sentido de explicar historicamente a situação da sociedade como lutas e injustiças sociais é considerada por esse pessoal como contraproducente ou mesmo nociva.

A argumentacao do texto eh total neoliberal: prega a não-interferência do Estado no ensino. Defende nas entrelinhas que o ensino privado é melhor por ser menos suscetível à essas supostas manipulações. Por isso, o artigo está a um passo do artigo pedir a privatização do ensino. Mas a falácia do argumento é afirmar que o mercado não tem ideologia, que é o mesmo que dizer que um texto não tem entrelinhas

É interessante também observar como os pais entrevistados nesse artigo tem medo que seus filhos tenham contato com idealistas de esquerda -- a ênfase do artigo é em relação aos/às professores/as, mas deve valer para qualquer pessoas considerada ideologicamente e "perigosa" -- provavelmente por saberem o quanto seus filhos podem ser influenciados e eventualmente se tornarem "adolescentes revoltados". Agora, não é característica própria da adolescência contestar os pais, professores e a própria autoridade?

Notas

  1. Qualquer semelhança desses argumentos com o Relatório Lugano não é nenhuma coincidência.

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