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Teoria do Rádio

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  Desejo vivamente que esta burguesia, além de ter inventado o rádio, invente outra coisa, um
  invento que torne possível estabelecer, de uma vez por todas, o que se pode transmitir pelo
  rádio. Gerações posteriores teriam, então, a oportunidade de ver assombradas como uma casta,
  ao mesmo tempo tornando possível dizer a todo o globo terrestre o que tinha que dizer e
  fazendo possível, também, que o globo terrestre visse que nada tinha para dizer.

  [...]

  1. Na minha opinião, vocês deveriam tentar fazer do Rádio uma coisa realmente democrática.
  Neste sentido, obteriam logo uma série de resultados se, por exemplo, dispondo, como dispões,
  de maravilhosos aparelhos de difusão, deixassem estar simplesmente produzindo, sem cessar,
  em vez de tornar produtivos os acontecimentos atuais mediante uma direção hábil e que
  economiza tempo.

  Compreende-se que pessoas que de repente se encontrem com tais aparelhos em mãos, queiram
  imediatamente organizar qualquer coisa afim de lhes procurar material, e encontrem uma ou
  outra arte industrial que lhes procure material artificial. já vi passar no cinema, com
  vaga inquietude, as pirâmides egípcias e os palácios reais hindus depois de Neubabelsberg,
  para serem fotografados por um aparelho que se poderia guardar comodamente na bolsa.

  [...]

  Não se deve subministrar o rádio, mas modificá-lo

  O Vôo Transoceânico não deve servir-se da radiofusão atual, mas deve modificá-la.
  A concentração nos meios mecânicos, assim como a especialização crescente na educação -
  processos que é necessário ativar - requerem uma espécie de rebelião por parte do ouvinte,
  sua ativação e sua reabilitação como produtor.

  [...]

  Retransmissão com o falso emprego da forma de concerto

  [...]

  V. A radiodifusão como meio de comunicação
  Discurso sobre a função da radiodifusão

  Nossa ordem social é anárquica ¿ se se pode imaginar-se sua anarquia de ordens, isto é,
  uma confusão mecânica sem relação mútua de complexos em si amplamente ordenados da vida
  pública. Neste sentido, nossa ordem social anárquica torna possível que se façam e se
  desenvolvam inventos que hão de conquistar, primeiro, seu mercado, sua razão de ser.
  Em uma palavra, inventos que não se fazem por encargo. Assim pôde a técnica estar
  preparada para recebê-la.

  Não era o público que esperava o rádio, mas o rádio que esperava o público; e para
  caracterizar com mais exatidão ainda a situação da radiodifusão, digamos que não era a
  matéria-prima que, em virtude de uma necessidade pública, esperava métodos de fabricação,
  mas que são os métodos de fabricação que andam procurando, angustiados, uma matéria-prima.
  De repente se teve a possibilidade de dizer tudo a todos, mas, olhando bem, não se tinha
  nada para dizer. E quem eram todos? A princípio se arrumava tudo sem pensar nisso. Olhavam
  ao redor procurando de onde se dissesse algo a alguém, e tentavam color-se dentro apenas
  por competência, e dizer qualquer coisa a qualquer um. Isso foi a radiodifusão na sua
  primeira fase na qualidade de substituta. Substituta do teatro, da ópera, do concerto,
  das conferências, do café concerto, da imprensa local, etc.

  Desde o princípio a radiodifusão imitou quase todas as instituições existentes que tenham
  algo a ver com a difusão da palavra ou do canto: na Torre de Babel surgiu uma confusão e
  uma justaposição que não se podia deixar passar por alto.

  [...]

  No entanto, no que diz respeito a esta meta da vida da radiodifusão, na minha opinião não
  pode consistir em simplesmente amenizar a vida pública. Pois não apenas demonstrou pouca
  aptidão para isso, mas também que nossa vida pública mostra, desgraçadamente, pouca aptidão
  para ser amenizada. Não sou contra que se instalem receptores nas estufas públicas dos pontos
  de ônibus e nas prisões (evidentemente se explica dessa forma se pode ampliar a vida dessas
  instituições de maneira barata), mas a missão principal do rádio não pode ser a de montar
  receptores até debaixo das pontes, por mais que represente um gesto nobre prover àqueles
  que desejem passar aí suas noites.

  [...]

  Porém, prescindindo de sua função duvidosa (quem muito promete, não dará nada a ninguém),
  o rádio tem uma cara onde deveria ter duas. É um simples aparelho reprodutor e simplesmente
  reparte.

  E para ser agora positivo, quer dizer, para descobrir o positivo da radiodifusão, uma proposta
  para mudar o funcionamento do rádio: é preciso transformar o rádio, convertê-lo de aparelho
  de distribuição em aparelho de comunicação. O rádio seria o mais fabuloso meio de comunicação
  imaginável na vida pública, um fantástico sistema de canalização. Isto é, seria se não somente
  fosse capaz de emitir, como também de receber; portanto, se conseguisse não apenas se fazer
  escutar pelo ouvinte, mas também pôr-se em comunicação com ele. A radiodifusão deveria,
  conseqüentemente, afastar-se dos que a abastecem e constituir os radioouvintes em abastecedores.
  Portanto, todos os esforços da radiodifusão em realmente conferir, aos assuntos públicos,
  o caráter de coisa pública são realmente positivos.

  [...]

  Quando Governo ou Justiça se opõem a essa atividade radiofônica, é porque têm medo e não pertencem
  a tempos anteriores à invenção do rádio, ainda não anteriores à invenção da pólvora.

  [...]

  Mas, seja o que for que o rádio trate de fazer, se empenho deverá consistir em fazer frente àquela
  inconseqüência em que incorrem, tão ridiculamente, quase todas as instituições públicas.

  [...]

  Todas as nossas instituições ideológicas vêm de sua missão principal em manter não-transcendente
  o papel das ideologias, de acordo com um conceito de cultura segundo o qual a configuração da
  cultura já está terminada e a cultura não tem necessidade de nenhum esforço criador continuado.

  Não é lugar, aqui, de analisar no interesse de quem repercutem tais instituições não-transcendentes.
  Mas quando se acha uma invenção técnica de uma utilidade tão natural para distintas funções sociais
  com um esforço tão angustiado para se tornar não-transcendentemente em passatempos o mais inofensível
  possível, então surge irresistível a idéia de que não existe nenhuma possibilidade de evitar
  o poder da desconexão mediante a organização dos desconectados.

  Qualquer ofensiva nessa linha, por pequena que seja, haveria de ter imediatamente um resultado
  natural, que ultrapassaria em muito o resultado de todos os programas de caráter culinário.
  Qualquer campanha com programa claro, portanto, qualquer campanha que se encaixe realmente na
  realidade, que tenha por objetivo modificar a realidade, mesmo que seja em assuntos da mais
  modesta importância, como, por exemplo, apropriar-se de obras públicas, asseguraria à radiodifusão,
  uma eficácia muito distinta, incomparavelmente mais profunda, e lhe conferiria uma importância social
  muito distinta da sua atual postura puramente decorativa.

  [...]

  No que se refere à técnica, a desenvolver em todas essas tentativas, orienta-se de acordo com
  sua missão principal, a saber: o público não apenas tem que ser instruído mas também tem que
  instruir.

  Missão formal da radiodifusão é dar a essas tentativas instrutivas um caráter interessante,
  isto é, fazer interessantes os interesses. Pode inclusive dar uma forma artística a uma parte,
  especialmente a destinada à juventude.

  [...]

  Portanto, a favor das inovações, contra a renovação! Mediante ingerências contínuas, incessantes,
  para a melhor utilização dos aparatos no interesse da comunidade, temos que estremecer a base
  social de tais aparatos, discutir seu emprego no interesse dos menos privilegiados.

  Impraticáveis nesta ordem social, praticáveis em outra, as sugestões, que apesar de tudo
  representam apenas uma consequência natural do desenvolvimento técnico, servem para a propagação
  e formação dessa outra ordem.

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